Nos reinventando em meio a crise das instituições públicas, após anos de desmonte e desvalorização, o projeto Cosmo-poiesis investiga o desejo que continua a nos mobilizar a fazer arte em meio à adversidade. Deslocamos a experiência de pesquisa e aprendizado da universidade para o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, em meio aos fluxos do centro da cidade. Inspirados pelas obras e pensamento de Hélio Oiticica e Lygia Clark, 14 jovens artistas graduandos da Escola de Belas Artes da UFRJ desenvolveram seus mundos particulares, transformados em projetos de instalação.
   Para cada artista, um universo imaginário, uma atmosfera. Em cada gesto de criação compartilhado paira a lembrança de que somos precários, como a vulnerável vida, mas não seremos precarizados. O exercício cotidiano é resistir e sabotar um sistema que nos quer apenas como máquinas de produção e consumo. Vulneráveis e precárias, arte e vida assim persistem, se agarram neste estranho desejo de liberdade - desejo de poder ir sempre além, esgarçar os limites , ser outra coisa completamente diversa do que se esperava, desafiar a morte.
   A exposição coletiva CORPOCOSMO traz fragmentos de mundos imaginados. Cada obra apresentada é parte de um porvir e revela a poética de cada um dos artistas, permeada pelo encontro com o coletivo e com a cidade. Em diversas obras, o corpo aparece como experiência expandida e fragmentada: mão, garganta, carne, vísceras, boca, ouvido, pele. Desmembrado no espaço, convidamos o público a adentrar o organismo como um cosmos em expansão. Em outras obras , vemos a casa, o cotidiano, a paisagem solar como cor e sensação, o mergulho no céu e no som, o metaverso, e até a referência ao Brasil, cuja necessidade de reconstruir está sempre sendo atualizada, em barro e tijolo.
   Essa exposição é um começo - marca o fim de um processo, e todo fim é um novo início. O CMAHO foi nosso delicado contorno, e a EBA, nossa semente. Saudamos a importância das instiruições públicas que, em brechas e esgarçamentos, abrem espaço para experimentarmos o campo da arte em sa plasticidade, modelado a muitas mãos. Agradecemos o acolhimento da equipe do CMAHO, à Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, ao programa de Bolsas de Iniciação Artística e Cultural, à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e ao Programa da Pró-Reitoria de Extensão UFRJ na Cultura, que deu início ao projeto.
   Descubra o CORPOCOSMO.

Mari Fraga